26 dezembro, 2007

As bodas de Olinda

Em 14 de dezembro passado, Olinda celebrou as bodas de prata de sua elevação pela Unesco à cidade Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade. Na câmara dos vereadores os festejos foram antecipados com uma sessão solene onde compareceram o ex-prefeito Germano Coelho, seu irmão Fernando, representantes do IPHAN, UNESCO e entidades da sociedade civil. Lá estava também a prefeita Luciana Santos.
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O discurso do professor Germano Coelho foi uma verdadeira aula de história, iniciada no 1500 até os dias de hoje. Após o evento passei a refletir sobre Olinda e sua história. OH! LINDA SITUAÇÃO PARA UMA VILA!
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A Olinda surgida entre sete colinastem comportamentos sócio-econômicos heterogêneos. Daí defendo que nas sete colinas encontram-se sete olindas diferentes.
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A primeira, a mais antiga, conhcida como Cidade Alta, com seu casario histórico e antigo, queimada pelos holandeses. Com o pelourinho do Mercado da Ribeira, o Varadouro das Galeotas, é habitada por artistas plásticos, intelectuais e estrangeiros que aqui veraneiam ou fixam residência. É a Olinda de Alceu Valença, do Mosteiro de São Bento, do Alto da Sé, da Bodega do Velho, do Palácio dos Governadores, do Carnaval, dos Bonecos de Sílvio Botelho e de dezenas de ateliês de pintores, escultores, entalhadores e ceramistas.
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A segunda Olinda é conservadora, de centenárias famílias tradicionais como os Machados, os Galvão, os Maias, os Fonsecas, Freires, Guimarães, Castros, Moreiras e outras que há muitos anos estão no Bairro Novo e representam o que há de mais tradicional na família Olindense.
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A terceira Olinda surgiu a partir da ditadura militar de 1964 nolugar de duas grandes propriedades existentes às margens do Rio Doce, uma dos Lundgrens e a outra dos Lins Cavalcanti. Lá surgiram, nas centenas de hectares compradas pelo governo biônico da época, as cinco etapas da COHAB, onde foram construídas milhares de casas e apartamentos sem a infra-estrutura necessária para alojar os cabos eleitorais dos políticos ou mesmo prestadores de serviço do regime totalitário.
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A quarta Olinda é o Jardim Atlântico, onde começou a verticalização dos imóveis do município com a construção de dezenas de edifícios de apartamento, tanto do tipo caixão ou uns poucos sobre pilotis, esta Olinda abriga os moradores que vieram do Recife e de outros municípios vizinhos da região metropolitana e a população é formada por profissionais de nível médio e superior onde encontram-se inúmeros médicos, advogados, bancários, funcionário públicos.
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A quinta Olinda, onde vivem mais de 70% da população, é formada por famílias pobres com um grande número de desempregados, subempregados e biscateiros, onde poucos tem carteira de trabalho assinada e com um grau de instrução de nível de primeiro grau como regra. Esta Olinda se localiza após o giradouro da PE-15 (panordestina) e compreende os bairros como Peixinhos, Jardim Brasil, entre outros.
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A sexta Olinda é a mais violenta, com uma população vivendo abaixo da linha de pobreza, espalhado em mais de duzentas favelas localizada às margens dos rios Beberibe, Lava Tripas, Rio Doce, córregos e barreiras do município de 44 quilômetros quadrados. Esses moradoresdos assentamentos subnormais, no dizer dos técnicos são desesperançosos das melhorias advindas do poder público, há muito tempo ouvem promessas, buscam saídas e nada de concreto acintece para a melhoria da qualidade de suas vidas.
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A sétima e última Olinda poucos conhecem. Fica localizada na divisa de Paulista com a Cidade Tabajara, com o Fragoso e com Jardim Brasil. Tem aproximadamente 600 hectares e predomina pequenas chácaras, tem um cemitério tipo jardim, um pesque-pague, criação de galinhas, caprinos e ovinos, não tem estradas asfaltadas e mantém uma agricultura de subsistência produzindo hortifrutigranjeiros. É a zona rural de Olinda, a menos de 15 quilômetros dos shopping centers, do tráfego congestionado das grandes avenidas do Recife, poluição sonora e ambiental.
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Esta visão que acredito que em alguns momentos pode ser delirante é o resultado de uma convivência diária de mais de 35 anos com as coisas e com a gente da cidade patrimônio cultural e natural da humanidade. Feliz bodas de prata, Olinda!
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Ernesto Neves
Jormalista e ex-secrtário de Olinda

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