Como se não bastasse a crise que desmoralizou o Senado neste ano, as
eleições de 2010 ameaçam tirar o brilho de antigas estrelas da política
nacional, que enfrentam dificuldade para se reeleger. Os obstáculos
atingem em cheio senadores de todos os partidos que estão sendo
obrigados a fazer arranjos políticos para garantir, ao mesmo tempo, sua
sobrevivência e a eleição nos Estados.
Na oposição, há casos emblemáticos como os dos senadores tucanos
Sérgio Guerra (PE), atual presidente do PSDB, e Tasso Jereissati (CE),
ex-presidente da sigla, que correm o risco de não voltar ao Senado. Os
percalços eleitorais também abrangem senadores governistas, como Renan
Calheiros (PMDB-AL), que provavelmente terá de encarar como adversários
na corrida pelo Senado o ex-governador Ronaldo Lessa (PSB) e a
candidata à Presidência pelo PSOL em 2006, Heloisa Helena.
O enfraquecimento de cabeças coroadas da política é mais visível no
Nordeste, onde tradicionalmente os governadores são responsáveis pela
eleição de senadores. Depois de governar Pernambuco por oito anos
consecutivos, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que tem mais cinco
anos de mandato, é pressionado a sair candidato ao governo do Estado. O
motivo é que a candidatura do peemedebista seria o caminho mais
tranquilo para alavancar a eleição tanto de Sérgio Guerra quanto do
ex-vice-presidente Marco Maciel (DEM-PE).
Com dificuldade para se reeleger ao Senado, os dois torcem para que
Jarbas dispute o governo do Estado e, com isso, ganhem um palanque
forte. Afinal, ambos terão como adversários o ex-prefeito de Recife, o
petista João Paulo, e o deputado Armando Monteiro (PTB). Com mandato
desde 1971, Maciel é o que tem mais "recall" junto ao eleitorado. Já o
senador tucano é o que dispõe da maior estrutura partidária no Estado,
mas sem o palanque de Jarbas enfrenta dificuldade de se reeleger para o
Senado.
"Todos os candidatos de oposição serão mais competitivos se Jarbas
for candidato ao governo", admite Guerra. O senador peemedebista
prefere, no entanto, manter o suspense até o carnaval, data em que
confidenciou a amigos que irá bater o martelo sobre sua candidatura. Se
Jarbas resolver não entrar na disputa eleitoral, Guerra vai tentar seu
quarto mandato de deputado. Para "guardar lugar", já lançou sua filha
Helena Guerra à Câmara.
Governador do Ceará por oito anos, Tasso elegeu para o Senado quem
bem entendeu durante a década de 90 e até 2002, quando ele e sua
afilhada política Patrícia Saboya (PDT) conquistaram as duas vagas no
Senado. Mas agora a situação é tão delicada que a ex-mulher do
pré-candidato à Presidência pelo PSB, deputado Ciro Gomes, vai disputar
uma vaga de deputada estadual. Na sua vaga de deputado pelo Ceará, Ciro
pretende eleger Pedro Brito (PSB), ministro-chefe da Secretaria
Especial de Portos. Tasso tenta obter o apoio velado de Cid Gomes
(PSB), irmão de Ciro e atual governador do Ceará, para voltar ao Senado.
O cenário cearense ficou complicado depois que o ministro da
Previdência, José Pimentel (PT), entrou na disputa por uma das duas
cadeiras de senador. A outra é pleiteada pelo deputado Eunício Oliveira
(PMDB), ex-ministro das Comunicações de Lula. Teoricamente, Cid apoiará
as candidaturas de Eunício e Pimentel.
Ocorre que historicamente os Gomes sempre estiveram juntos de Tasso.
"Na história política do Ceará nenhum governador se elegeu sem deixar
de fazer os senadores", diz Oliveira, que aposta no apoio do governador
para conquistar o Senado.
Homem forte no Senado do governo Lula, Renan também se prepara para
enfrentar uma eleição dificílima. Com a provável candidatura da
senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência, Heloísa Helena teria
desistido de tentar disputar a sucessão presidencial. A expectativa é
que obtenha "um caminhão de votos" na eleição para o Senado. A
candidatura do ex-governador Lessa também é forte: quase se elegeu em
2006 para o Senado. Perdeu para Fernando Collor de Mello (PTB).
Depois de chegar ao Senado com mais de 10 milhões de votos, o líder
do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), não deverá ter reeleição fácil.
A situação dele se agravou depois que o vereador Gabriel Chalita migrou
do PSDB para o PSB para disputar uma das vagas por São Paulo. Com a
aliança entre o PSDB e o PMDB em torno da candidatura ao Senado do
ex-governador Orestes Quércia, Mercadante estaria contando em ser o
"segundo voto" dos tucanos. Mas agora o "segundo voto" deve migrar para
Chalita.
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