28 fevereiro, 2010

DISPUTA PELO SENADO, NOVO ROUND NUMA ANTIGA BRIGA

» RUMO ÀS ELEIÇÕES
Humberto Costa e João Paulo medem forças no PT há mais de duas décadas, num confronto que já beira o campo pessoal e alarma petistas

Na semana passada, o clima de acirramento interno no PT ganhou contornos de caminho sem volta. Adversários de longa data no partido, o secretário Humberto Costa (Cidades) e o ex-prefeito João Paulo, líderes dos principais grupos rivais na sigla, não têm conseguido mais limitar suas diferenças ao campo político. A queda de braço é antiga, remonta a mais de duas décadas. Mas no atual cenário pré-eleitoral, já beira o nível pessoal. Ao ponto de o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, manifestar sua preocupação com o ambiente pesado.
O pivô do acirramento é a briga pela vaga de candidato ao Senado na chapa do governador Eduardo Campos (PSB), que disputará a reeleição. Na quinta-feira passada, a absolvição de Humberto nas denúncias de envolvimento no Escândalo dos Vampiros e a recepção com cara de campanha preparada para João Paulo no aeroporto aqueceram os termômetros da disputa interna, e já há quem não veja outra solução que não seja a realização de prévias para definir o candidato.

A rixa entre Humberto e João Paulo começou em 1988, numa disputa por espaço na campanha municipal. Com origem no movimento sindical e apoiado pela Ação Católica Operária (ACO), o metalúrgico João Paulo deixara a presidência da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Estado e se preparava para tentar uma vaga de vereador no Recife. Buscando ampliar sua base, abocanhou uma considerável fatia de aliados de Humberto – fundador do PT e, à época, candidato a prefeito da capital.
A “tratorada” irritou o correligionário, que foi tomar satisfações, e a relação transformou-se numa montanha-russa, com muitos altos e baixos. Naquele ano, Humberto não foi bem-sucedido. João Paulo, por sua vez, se tornou o primeiro vereador eleito do PT no Recife. Dois anos depois, porém, viria o troco. Na disputa pela Assembleia Legislativa, com 29.170 votos, Humberto ficou na segunda colocação geral no Estado. Eleito com 10.867 votos, João Paulo amargou um 46º lugar. O mandato revelou pouca afinação entre os petistas, que não se acanhavam em expor publicamente suas divergências.
Nas eleições de 1992, João Paulo surpreenderia, ao se anunciar candidato a prefeito de Jaboatão dos Guararapes. Sem alarde, tinha transferido para lá o seu domicílio eleitoral. Boa justificativa para não ter que se engajar na campanha de Humberto, novamente candidato no Recife. Nenhum dos dois foi bem nas urnas, mas ambos se cacifaram para a disputa seguinte, em 1994. Humberto garantiu um mandato federal e João Paulo foi o estadual mais votado. Mas por iniciativa do grupo de Humberto, o PT apoiou a candidatura de Miguel Arraes (PSB) a governador sem pedir cargos na chapa. Para desgosto de João Paulo, que sonhava com a vice.
De volta ao Recife, em 1996 João Paulo disputou com Humberto e o deputado Paulo Rubem Santiago as prévias pela indicação como candidato do PT a prefeito. Embora vitorioso, Humberto renunciou, por divergir da decisão do partido de romper com o governo Arraes. Segundo colocado, Paulo Rubem não conseguiu se viabilizar. A candidatura sobrou para João Paulo, que avalizou o distanciamento de Arraes, acrescentando mais um arranhão na relação.
Mesmo derrotado por Roberto Magalhães (PFL), dois anos depois João Paulo renovaria o mandato de deputado, novamente como o mais votado. Enquanto Humberto perdia a disputa pelo Senado para José Jorge (PFL). Mas em 2000, os dois estavam unidos na revanche contra Magalhães. Eleito, João Paulo abriu espaço para o rival na sua equipe da Prefeitura. Mas não atendeu ao pleito do grupo, de nomeá-lo secretário de Governo, um órgão iminentemente político. Em vez disso, o colocou na pasta de Saúde.
Candidato a governador em 2002, Humberto foi derrotado por Jarbas Vasconcelos (PMDB), que disputava a reeleição, e criticou João Paulo por estar ausente da campanha petista e priorizar a relação administrativa com Jarbas. As acusações não foram suficientes para tirar o respaldo do PT à reeleição do prefeito em 2004, apesar do próprio João Paulo ter levantado suspeitas de que Humberto estaria de olho no seu cargo. Já em 2006, João Paulo é quem seria suspeito de ensaiar uma renúncia à PCR para brigar com Humberto pela candidatura ao governo.
O maior dos abalos entre os dois líderes, porém, aconteceria em 2008. Concluído o segundo mandato, João Paulo escalou como sucessor seu então secretário de Gestão Participativa, João da Costa. E enfrentou a ira da ala majoritária do PT, que reclamava a candidatura de Humberto ou um de seus aliados, os deputados Maurício Rands e Pedro Eugênio. Mas nem mesmo a interferência de Lula demoveu o prefeito. Ele próprio revelou ter recusado um pedido do presidente em favor de Humberto. Após a eleição, porém, João da Costa passou a imprimir uma marca própria na PCR. João Paulo divergiu e terminou se distanciando do “pupilo”, que hoje está com um pé no palanque de Humberto.

Sérgio Montenegro Filho

smontenegro@jc.com.br
POLÍTICA - JORNAL DO COMÉRCIO

POSTADO POR ARLINDO SIQUEIRA

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