01 fevereiro, 2012

Um bairro-fantasma e de prédios condenados

GIRO METROPOLITANO
OLINDA Em Jardim Fragoso, onde dois imóveis desabaram no fim dos anos 90, ruas estão cada vez mais esvaziadas. Além do medo de acidentes, há o problema da falta de estrutura.
Um bairro-fantasma de imóveis abandonados. Interdições seguidas de prédios condenados e o medo dos moradores de continuar em uma área onde houve dois desabamentos provocaram, aos poucos, o esvaziamento de Jardim Fragoso, em Olinda, Grande Recife. A falta de infraestrutura, com ruas esburacadas e sem calçamento, ajuda a reduzir a procura do lugar por novos moradores.
A Rua Professor Diógenes Fernandes Távora e as vias do entorno colecionam prédios interditados. Os moradores começaram a deixar as residências, há mais de uma década, devido a interdições da Defesa Civil. As construções do tipo prédio-caixão fazem parte da lista dos 107 edifícios interditados em Olinda. Ao todo, seis mil construções de alvenaria estrutural já apresentaram problema no Estado.
Os prédios abandonados são alvos constantes de invasões de grupos de movimentos sociais. Em julho do ano passado, os cinco blocos do Conjunto Residencial Jardim da Praia, na Rua Professor Diógenes Fernandes Távora, foram ocupados por 158 famílias do Movimento de Luta pelo Teto (MLT) e desocupados dois meses depois. Segundo a Prefeitura de Olinda, das edificações com risco de desabamento, 34 foram invadidas. Dessas, 26 já teriam sido esvaziadas por meio de ação judicial.
Após a retirada das pessoas, o cenário de abandono se agravou. A vegetação toma conta da entrada do condomínio e a piscina acumula água suja e lixo. Móveis deixados pelos antigos moradores ficaram aglomerados nas garagens e servem ao uso dos cinco vigias contratados pela Caixa Seguros para evitar novas invasões.
Há 18 anos desocupado e invadido duas vezes, mesmo com o vigia dentro, o Edifício Alfredo Lopes, na Rua Antônio Martiano de Barros, é mais um na lista dos prédios interditados. Em julho passado, o Edifício Ana Amélia começou a apresentar rachaduras e as 12 famílias que lá viviam abandonaram o local. À época, a Caixa Econômica Federal divulgou nota informando que as famílias desalojadas receberiam ressarcimento relativo à perda dos imóveis.
Os principais acessos dos edifícios foram fechados. A medida, estendida para a maioria dos prédios interditados da localidade, não impediu, no entanto, que famílias inteiras se instalassem no Edifício Xingu, na Rua Bambu. Há oito meses, a dona de casa Andressa Silva, 20 anos, marido e três filhos saíram da beira do rio e passaram a morar em um dos apartamentos. “Tenho medo de a polícia chegar e colocar a gente para fora. Espera que, um dia, as autoridades se lembrem da gente”, diz. A falta de estrutura é constatada nas paredes rachadas, na ligação irregular de energia e na falta de água nas torneiras.
De acordo com a Prefeitura de Olinda, um levantamento constatou que a maioria das famílias que ocupam esses imóveis morava em municípios próximos e estaria se aproveitando da política de habitação popular na expectativa de serem incluídos nos programas. Acrescentou que não tem nenhum poder sobre a desapropriação e a saída dos donos, uma vez que eles assinaram contrato de financiamento com a Caixa. Segundo o município, nesse contrato, há uma cláusula que garante ao proprietário auxílio-moradia no valor médio de R$ 600 pagos pelo próprio banco.


Imóveis da região estão desvalorizados
Os poucos moradores antigos do bairro viram a localidade se esvaziar ao mesmo tempo em que ficou mais difícil conseguir vender o imóvel por causa da desvalorização. Proprietária de um apartamento sem problemas na estrutura, uma moradora, que pediu para não ser identificada, conta que não consegue vendê-lo por preço adequado. “O grande problema é que esqueceram daqui e ainda ficamos temerosos de um dia ser a nossa casa a próxima a ter problemas”, diz. O medo dos moradores pode ser explicado por duas tragédias que aconteceram em 1999 no bairro, quando dois prédios, os Edifícios Éricka e Enseada de Serrambi, do mesmo tipo, desabaram, resultando na morte de 11 pessoas.
Outra moradora diz que a cada nova invasão dos prédios do entorno, aumenta a sensação de insegurança. Não sabemos quem são essas pessoas, só que elas estão invadindo o que não lhes pertence, desabafa. Para o professor Antônio Gomes, 37 anos, dono de um apartamento na Rua Antônio Martiniano de Barros, é necessário intervenção do poder público para trazer melhorias ao bairro.
O problema é que não desapropriam nem derrubam. Não resolvem a situação dos prédios e ficam gastando desnecessariamente com vigilantes, afirma. Segundo a Caixa Seguros, grande parte desses edifícios é objeto de ação na Justiça, o que impediria a tomada de qualquer providência em relação à recuperação.
PROJETO
Um convênio firmado entre os governos federal, estadual e prefeituras de cinco municípios da Região Metropolitana (Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Camaragibe), em 2010, prometeu recuperar 340 dos quase seis mil prédios do tipo caixão com risco de desabamento, o que significa menos de 10% dos imóveis. A verba destinada seria de R$ 215,4 milhões.


JC CIDADES
31/01/2012

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