Comecei a fazer política como estudante no Diretório Acadêmico de Agronomia. Fui reeleito. Fiquei à frente do DA de 1953 a 1954. A vida de estudante me serviu para despertar uma consciência social.
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Formalmente, ingressei na política em 1962 quando fui nomeado para a Superintendência para a Refora Agrária - Supra - abrangendo os estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Foi aí que poso dizer que trabalhei a política em termos sociais.
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Era o tempo das Ligas Camponesas. Muitos conflitos agrários. Muitas contradições. A desapropriação do Engenho Galiléia foi realizada por um usineiro, Cid Sampaio, na época governador.
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Me liguei muito aos sindicatos rurais e as Ligas Camponesas. Era difícil trabalhar o Agreste e Sertão de Pernambuco, a cultura paternalista impedia a ampliação da luta sindical, diferentemente da Zona da Mata onde tudo era efervescência.
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Nunca tivemos uma preocupação maior de aprofundar as questões do mundo rural brasileiro. Discutir as questões econômicas e sociais. Conversei muito sobre esse assunto com Francisco Julião, no México, e ele também reconheceu que essa foi uma lacuna do movimento. Tínhamos os camponeses da Zona da Mata para as mobilizações de rua, mas não debatíamos com eles as razões do nosso subdesenvolvimento. Os camponeses daquela época não tinha uma consciência mais aprofundada da situação do mundo rural.
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Na madrugada de 1 de abril de 1964, Miguel Arraes me pediu para mobilizar os camponeses para resistir ao golpe militar. Era preciso salvar o governo das forças populares. Procurei José Eduardo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Palmares.
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Fui no Engenho Limão, em Xexéu, defeder o Governo. Que governo? Os trabalhadores rurais só entendiam de salário. Voltei com poucos camponeses para encontrar com Hugo Trench na ponte do Motocolombó e fui recebido pelo Exército. Trench já havia sido preso.
A CLANDESTINIDADE
Entrei na clandestinidade. Uma tristeza. Todo meu sonho de igualdade social acabou. A ânsia para aglutinar forças, para reagir. Tinha 33 anos. Não tinha tempo para ter medo. Era uma pessoa da esquerda independente, não era filiado ao Partido Comunista Brasileiro - PCB.
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A CANDIDATURA
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Entrei na disputa sem ter a mínima expectativa de vitória. Na véspera da eleição, reuni meus amigos e disse:
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- Cumpri minha missão! Falei tudo que tinha a dizer sobre a situação do Brasil e dos tempos que vivemos.
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No dia da eleição, meus amigos vieram me chamar para visitar as seções eleitorais. Não tínhamos dinheiro sequer para se deslocar. Fizeram uma cota e juntaram dinheiro suficiente para alugarmos um táxi e fomos para as ruas.
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- Tive 4.800 votos pelo MDB - Movimento Democrático Brasileiro. Me elegi!
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Só depois percebi a razão dos votos que conquistei. Em 1966, o deputado Oswaldo Lima Filho, o Oswaldinho, criou uma lei que facultava aos partidos políticos meia hora pela televisão. Era o início do famoso Guia Eleitoral. Eu ia para televisão e falava tudo, sempre com a expectativa de ser preso. Teve momentos que falei até no horário da Arena porque os candidatos deles faltaram e a televisão disponibilizou o tempo. E eu ainda provocava:
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- Eles não vieram falar aqui porque não têm o que dizer. Não têm como defender este governo injusto.
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Foi a televisão que me ajudou a conquistar o mandato. Fui vice-líder de Geraldo Pinho Alves.
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A CASSAÇÃO
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Fui cassado em 1969, dia 13 de março, aniversário da minha mulher. Onze irmãos comemorando. Quando chegou a notícia. Depois, os militares alegaram que eu fiz uma festa para comemorar minha cassação. Pura invenção.
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Tomamos conhecimento pela "A Voz do Brasil": "O Conselho de Segurança Nacional após uma exaustiva análise resolve cassar o mandato de..."
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Estabeleceu-se um silêncio. Ninguém me procurou. Às 22 horas, chegou em minha casa Marco Maciel e Ana Maria para uma visita de solidariedade. Ninguém da esquerda me procurou.
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A REAÇÃO QUE NÃO HOUVE
Antes da cassação, ainda deputado, fui procurado por um coroel, ele sabia da minha atuação na Zona da Mata. Ele disse que me procurava em nome de Adhemar de Barros, que queria reagir aos militares no poder. Chegamos a combinar as estratégias, num avião da Vasp, que aterrissaria em Palmares com armas para entregar aos camponeses e iniciar uma resistência armada.
Segundo o coronel, o movimento tinha a participação de Adhemar de Barros, governador de São Paulo, general Justino Alves Bastos (Rio Grande do Sul) e José Aparecido (Minas Gerais). Comecei a contatar os camponenses. Mas, a tentativa de resistência armada ao regime militar fracassou porque, em dado momento, José Aparecido sugeriu que com o movimento vitorioso, seria constituída uma Junta Governativa, e, em seguida, convocada eleições. Adhemar discordou e saiu da conspiração.
VOLTA A SEMI-CLANDESTINIDADE
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Depois da cassação, voltei para uma semi-clandestinidade. Fui reorganizar movimentos camponeses. Saí do Brasil. Fui para o Paraguai. Fui de Pernabuco até o Rio de Janeiro de carro. Peguei um ônibus e fui do Rio de Janeiro até Ponta Porã, fronteira com Pedro Juan Caballero. De teco-teco segui até Assunção.
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Contei com o apoio de um grupo que ajudava exilados formado por Marcos Lins e Djaci Magalhães e outras pessoas que até hoje não sei o nome. Eles me ajudaram a fazer essa fuga. Me conseguiram um passaporte em Niterói.
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No Paraguai continuei engajado nos movimentos políticos. Minha missão no Paraguai era receber refugiados, utilizando a facilidade de ter um carro com placa internacional. Muitos eu não conheço até hoje a identidade deles. Eram líderes sindicais, com certeza. Marcos Lins e Sílvio Lins sempre passavam freqüentemente por lá.
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Gildo Porto Guerra, representante do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento - no Paraguai. Gildo me arranjou um emprego no BID. Aí a secretária do BID mandou me apresentar ao Embaixador.
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Temia uma represália do Governo brasileiro de onde eu saíra fugido. Fiquei enrolando e adiando o encontro, que era uma exigência protocolar do BID.
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Em 1970, o poeta João Cabral de Melo Neto assumiu o cargo de Ministro Conselheiro da Embaixada do Brasil no Paraguai.
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Fui falar como ele para tentar marcar uma audiência e cumprir a exigência burocrática. Pensei que ele não me atenderia.
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Mas, a secretária da Embaixada, assim que anunciei meu nome, e falou com João Cabral, me respondeu:
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- O Embaixador que lhe receber agora.
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De repente surge o Embaixador-poeta passa por mim e nem cumprimenta. Tranca a porta. E me pergunta:
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- O que é que você está fazendo por aqui? Você está cheio de problemas políticos.
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E começou a falar do Brasil e de Pernambuco. Abriu os jornais brasileiros que chegaram na Embaixada e foi direto ao caderno esportivo. Daí por diante foi uma conversa fraterna sobre a situação difícil que o Brasil vivia e também cheia de recordações da nossa terra natal. Ganhei um aliado importante.
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TRABALHANDO NA OEA
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Fiquei seis anos no Paraguai. Fui convidado para ser economista principal da OEA - Organização dos Estados Americanos - para Assuntos Agrários. Fiquei sediado em Washington, mas vivia mais fora do que dentro dos Estados Unidos. Visitei muitos países e conheci muitas experiências de Desenvolvimento Agrário. Acompanhei o Chile até a queda de Allende. Fiquei impressionado com a experiência de Honduras, um país atrasado, que conseguiu equacionar bem o desafio rural, graças ao trabalho de um grande brasileiro, Clodomir Morais, uma figura maravilhosa.
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Passei dez anos na OEA. Ainda na OEA fui nomeador Embaixador da OEA no Paraguai.Fiquei mais cinco anos. Conduzia todos os programas da OEA lá. Era uma ação mais ampla, não só na área de Desenvolvimento Agrário.
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A VOLTA AO BRASIL
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Voltei para o Brasil, em 1987, a chamado de Dr. Arraes para assumir o Prorural. Mas não deu. Tive que sair. Comecei a trabalhar na iniciativa privada elaborando projetos de desenvolvimento rural. No governo de Carlos Wilson fui secretário adjunto de Agricultura. Voltei novamente para a iniciativa privada. Fui chamado para coordenador do DNOCS em Pernambuco.
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Agora,no governo Eduardo Campos, estou no Promata. O programa que estou coordenando tem por objetivo a diversificação de atividades produtivas na Zona da Mata pernambucana. O desafio é quase igual ao do começo da minha vida. A solução é a mesma: diversificar, fugir da monocultura, a solução é a mesma, mencionada há 400 anos. É uma região de contradições. Tem condições naturais excepcionais e indicadores sócio-econômicos da maior negatividade.
2 comentários:
Existem pessoas que, mesmo a gente tendo uma pequena oportunidade de convívio, nos deixa lições para o resto da vida.
Deminha é com certeza uma dessas pessoas.
Convivi com Deminha na campanha de 1988. Na época, com apenas 21 anos de idade, fui candidato a vereador mas dediquei-me mais à eleição de Luiz Freire para Prefeito do que à minha.
Deminha tinha a árdua (e põe árdua nisso) tarefa de lidar com os candidatos proporcionais e suas necessidades. Passei a ajudá-lo de perto, servindo de para-choque para as insatifações e reinvindicações que, em sua maioria, eram esdrúxulas.
Ouvi muitas vezes de Deminha: "você é um homem como poucas mulheres", me dizia se referindo à forma sensível, em sua opinião, como eu escutava e encaminhava os problemas.
Com Deminha aprendi muito. Uma fórmula que ele me ensinou eu nunca esqueço: "quando o camarada chegar falando muito que tem 1.000 votos para lhe dar, tire um zero, divida por 2 e pode ser... que ele lhe dê 50." Dizia com o bom humor e a alegria que sempre o acompanham.
Mais uma vez, o blog acerta nas homenagens que faz. Afinal, Deminha "é um homem como poucas mulheres".
Um abraço para Deminha, em lembrança do meu pai (Marcos Lins)e do meu tio Sylvio (no dia do seu aniversário).
Renata Lins
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