07 outubro, 2009

Ameaça e atraso a céu aberto




Moradores da Cidade Alta de Olinda têm alertado para o risco crescente que ronda o Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade: transformadores explodindo, faíscas na fiação e quedasfrequentes de energia fazem parte da rotina, que ganhou as manchetes depois do feriado de Sete de Setembro, quando um incêndio em um poste da Rua Henrique Dias chamou a atenção para a precariedade das condições de funcionamento da rede da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) na área.
A reclamação dos moradores não é nova, e o problema é conhecido pela Celpe, que já começou os serviços para embutir a fiação no Alto da Sé, e tem projetos em análise para outros trechos do Sítio Histórico, a exemplo do que acontece em qualquer cidade civilizada. Segundo a Celpe, as ligações clandestinas e a violação das caixas de distribuição são responsáveis pelos curtos-circuitos.
Com a fiação e os equipamentos à mostra, é a população que fica exposta a infortúnios anunciados. A integridade dos cidadãos é ameaçada desnecessariamente, quando já se sabe onde mora o perigo e o que precisa ser feito. Cabe à concessionária de energia realizar com urgência os investimentos requeridos, ou buscar as parcerias com entidades públicas e privadas dispostas a patrocinar ou dividir esses custos. A Petrobras, por exemplo, aplicou R$ 6 milhões no ano passado na retirada dos postes na Rua do Sol, e agora está avaliando proposta para embutir a fiação das Ruas do Amparo e Prudente de Morais, ao custo de R$ 22 milhões. Na Ladeira da Sé, os recursos vieram do Prodetur.
Vale lembrar que há um projeto da Universidade Federal de Pernambuco para toda a rede da Cidade Alta desde 2003. O embutimento total da fiação no Sítio Histórico de Olinda servirá a vários objetivos. Irá trazer mais segurança, prevenindo as ocorrências em virtude das gambiarras e das falhas da atual rede. Proporcionará o melhor funcionamento da rede, uma vez que dificulta a ação dos vândalos, e reduz o efeito das chuvas sobre o sistema danificado. Diminuirá o gasto de manutenção e induzirá à melhoria dos serviços prestados. E ainda renderá dividendos turísticos, sobretudo durante o Carnaval, embelezando a rota dos passeios e abrindo a perspectiva do olhar para os monumentos e as fachadas do casario.
Por todos os benefícios visíveis, é de se perguntar por que a fiação subterrânea do Sítio Histórico olindense não foi concluída. Em obras desse tipo, as escavações podem trazer achados arqueológicos, e impedir que num ou noutro ponto a obra avance. Mas não é o caso de locais que sequer sofreram intervenções. O atraso impõe perdas também à Celpe, seja por causa dos prejuízos diretos advindos de "macacos" e danos nos equipamentos, seja pelo desgaste na imagem da concessionária, evidenciado pelo acúmulo de queixas da população.
A valorização do Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, por outro lado, sugere a participação de múltiplos agentes na concretização deste objetivo. Prefeitura, governo do Estado e governo federal, assim como instituições privadas, devem ser pressionados para que o processo se acelere, e as obras concluídas o mais breve possível. A revitalização urbana das zonas históricas é uma tendência irreversível. Dentro dessa tendência, a utilização de cabos subterrâneos de energia é um caminho sem volta, uma medida adotada em todo o mundo que se dissemina no Brasil. A cidade mineira de Ouro Preto, que foi a primeira do País a receber o título da Unesco, depois de um grande susto resolveu limpar de sua paisagem o emaranhado de fios elétricos. Em 2003, foi cogitada a possibilidade de revogação do título de Patrimônio da Humanidade, devido a um incêndio provocado pela má conservação urbana.
Para que a ameaça a céu aberto não represente um atraso semelhante no horizonte de Olinda, a Celpe deve estar atenta aos perigos da fiação aérea, e não poupar esforços para que a rede seja instalada inteiramente debaixo da terra, evitando que transtornos como o do Sete de Setembro voltem a ocorrer.


Publicado em 07.10.2009
Jornal do Comercio 


POSTADO POR ARLINDO SIQUEIRA


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