11 junho, 2010

LUCIANA AZEVEDO PEDE DESCULPAS

Um dia depois de centrar fogo na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) e constranger deputados da oposição e do governo, a presidente da Fundarpe, Luciana Azevedo, enviou ontem uma carta de explicações ao presidente da Casa, Guilherme Uchoa (PDT), e pediu que os parlamentares “não se sintam atingidos”. Anteontem, ela denunciou um esquema de troca de favores políticos entre a Fundarpe e a Assembleia, e caracterizou a ação como “mamatinha”, “presentinho” e “safadeza”. Afirmou, também, que deputados extorquem verbas públicas para, em nome da cultura, votar projetos do governo. Ao considerar a ação como “ilegalidade”, Luciana terminou se autocondenando, já que grande parte das solicitações dos deputados foi chancelada por sua gestão.

A ação de remeter a carta aos parlamentares faz parte da estratégia do Palácio, que deflagrou operação para segurar a ex-vereadora no posto e evitar novos pronunciamentos bombásticos da gestora. Nos bastidores, o grupo que gere a crise aposta que, magoada, Luciana poderia atrapalhar o plano do governador Eduardo Campos de esfriar o clima de denuncismo. O governador sabe que, às vésperas do início da campanha eleitoral, novos capítulos da crise podem abalar o discurso de comprometimento com a transparência.

“Encaminho essa mensagem para partilhar com os pares desta egrégia Assembleia a minha intenção de reafirmar meu apreço e estima a todos que, de forma delegada, representam a população do nosso Estado”, registra Luciana, logo no início do texto. Sobre suas entrevistas à Rádio Olinda e à Rádio Folha, quarta-feira, quando denunciou o esquema de favorecimento, a gestora lembra que foram palavras de “dor”: “Peço que transmita aos deputados que não se sintam atingidos com minhas palavras de dor e indignação”. Sobre a oposição, ela registra que “valoriza o papel de fiscalizar”, mas lembra que alguns tentam “comprometer” os esforços do governo do Estado no setor cultural. Na quarta, Luciana afirmou que Augusto Coutinho (DEM) é um “lambedor de botas da ditadura” e Terezinha Nunes (PSDB) tenta se apresentar como a “paladina da moralidade”. No texto, Luciana mantém o discurso de que as acusações do grupo são “infundadas”, mas continua sem se comprometer a apresentar as provas.

DESAPROVAÇÃO
Na Assembleia, a grande maioria dos deputados mergulhou ontem num silêncio estratégico. Ninguém viu, ninguém sabe, muito menos ouviu as declarações sobre a “mamatinha”. Assim como na quarta-feira, quando a situação já era crítica, a sessão de ontem foi rápida, sem debate. “O clima na Casa é muito ruim”, admitiu o deputado estadual André Campos (PT), único dos 49 deputados que o JC conseguiu entrevistar ontem.

Presidente da Casa de Joaquim Nabuco, Guilherme Uchoa (PDT), foi procurado mais de uma vez pela reportagem, por telefone, mas não retornou. Ele presidiu a rápida reunião plenária realizada no período da manhã. Há cerca de 20 dias, após subir à tribuna para comentar as denúncias da oposição sobre a Fundarpe, Uchoa declarou, em entrevista, não admitir a teoria de que todos são “honestos” e só Eduardo (Campos) é o “safado”. Ele também dificultou a liberação dos pedidos de informações da oposição. Desde 13 de maio, Augusto Coutinho (DEM) protocolou documento solicitando dossiê comprobatório da realização dos eventos questionados. Após afirmar que “tudo já foi liberado”, o presidente admitiu, dois dias depois, que por um “erro de redação” os despachos não haviam sido enviados.

A irritação dos parlamentares com Luciana ocorre, sobretudo, pela declaração de que “deputados da oposição e da situação” receberam presentinhos da Fundarpe – no governo Jarbas (1999-2006) e na gestão atual também – para “em nome do povo” aprovarem projetos na Alepe. “O Brasil está cansado desses políticos que extorquem dinheiro para aprovar projeto. No dia anterior, chegam e derrotam os recursos (suplementares) que iam para a Fundarpe, depois ajeitam aqui, ajeitam acolá, no outro dia aprovam (na Assembleia Legislativa). É assim que eles fazem o tempo todo, fazendo cena”, registrou a gestora. Anteontem, ela também afirmou que pode providenciar a lista dos “beneficiados” com a “ilegalidade”, mas não realizou a ação até o fechamento desta edição.

Nos bastidores, o consenso é que Luciana contrariou governistas e oposicionistas e o reflexo seria uma forte pressão para que ela deixasse o cargo, fato contrariado pelo governador no início da noite de ontem.

POSTADO ÀS 09:41 EM 11 DE Junho DE 2010

Por Manoel Medeiros Neto, do Jornal do Commercio


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